Uma das queixas que tem se tornado cada vez mais frequentes no consultório é a busca principalmente pelas mulheres para tratar as dificuldades psicológicas ou o sofrimento psíquico decorrentes do fato de não estarem conseguindo engravidar.
Esse tipo de impedimento tende a gerar muitos conflitos íntimos aos cônjuges e tensões na própria relação do casal que a partir de então vê seu casamento afetado dramaticamente, bem como, as próprias relações familiares e amizades, tendo em vista as expectativas, cobranças e frustrações que com o passar do tempo vão se tornando cada vez maiores. Em alguns casos, pode tornar-se difícil e aflitivo até mesmo conviver e suportar a simples lembrança disso pelos comentários em família ou inevitáveis comparativos com os amigos, vizinhos e parentes mais próximos, alguns dos quais vão tendo seus filhos sem parecer enfrentar a mesma dificuldade.
Devido a nossa cultura materialista que privilegia uma visão reducionista em saúde baseada em falsas premissas científicas e muita propaganda corporativa, a busca exclusiva por tratamentos médicos é o mais comum e poucos se atentam ao fato de que podem precisar suporte psicológico ou até mesmo se beneficiar optando por alternativas terapêuticas substitutas menos invasivas, dispendiosas, desgastantes ou sofridas do que procedimentos de inseminação artificial ou tratamentos bioquímicos, ou ainda, conforme indicaria, buscando terapêuticas complementares que possam potencializar a intervenção médica, numa visão de tratamento multinível que contemple a pessoa como um todo, cuidando não só de seu organismo biológico, mas também de sua dimensão afetiva, psicológica, social e espiritual, numa visão mais integral de saúde.
Entre essas alternativas insere-se a psicoterapia de orientação transpessoal e o uso da técnica de regressão de memória que tem apresentado resultados bastante eficientes no tratamento da dificuldade de engravidar, ajudando muitas mulheres e casais a realizarem o tão esperado sonho de darem a luz ao seu bebê.
A psicologia transpessoal trabalha numa perspectiva integral em saúde onde se considera importante levarmos em conta não só a dimensão biológica, mas também as dimensões psicossociais e até a espiritualidade que é seu grande diferencial em relação às abordagens mais tradicionais na medicina, psicologia e na área da saúde.
Dentre as várias técnicas que podem ser utilizadas, destacaria principalmente a Terapia de Revivência Transpessoal, um método de regressão que tem ajudado muitas pessoas a superarem seus conflitos, bloqueios e sofrimentos, inclusive em relação a dificuldade de engravidar que em nossa visão e experiência profissional não é apenas uma disfunção biológica, na medida em que também pode apresentar uma série de variáveis psicológicas, sociais e até espirituais, conforme temos constatado em casos tratados com sucesso e que podem ser confirmados através da evidência clínica.
Constatamos que quanto mais um casal estiver afastado de sua natureza afetiva, intuitiva, de suas emoções, de sua interioridade e do aspecto feminino psicológico da relação, mais se afasta das raízes biológicas do amor prejudicando a sua fertilidade. Esse afastamento pode se dar de modo inconsciente a fim de atender as demandas da sociedade, as muitas exigências da vida adulta e do mercado de trabalho, tornando o problema difícil de ser diagnosticado, já que o casal pode levar uma vida “normal” e conveniente do ponto de vista social, e, no entanto, tão “normal” quanto malsã do ponto vista psicológico e espiritual já que não é sadio ser adaptado a uma sociedade adoecida de valores ao inverso e materialista ao extremo.
Historicamente temos estado dissociados de nossa dimensão de interioridade, afetividade e espiritualidade, seja pela ainda influente pré-modernidade dos dogmas religiosos e suas literalidades supersticiosas, seja pela dominante modernidade dos dogmas cientificistas e suas falácias cartesianas, ou ainda, pela incipiente pós-modernidade dos dogmas intelectuais relativistas e suas contradições niilistas, ou seja, em qualquer época pela tendência humana sombria ao dogmatismo ora pela fé cega, ora pela razão disruptiva e a consequente massificação cultural decorrente da negação dos afetos, do sentir, das emoções profundas, da espiritualidade, cujos sintomas são a perda ou confusão de valores e a degradação e o adoecimento dos nossos relacionamentos em todas as suas esferas, inclusive, claro, em nossa saúde, causando danos no âmbito afetivo-sexual e biológico da reprodução humana conforme vem acontecendo em escala crescente.
Num viés psicossocial, os condicionamentos comportamentais do ser humano decorrem de influências parentais, histórico-culturais e sociais que num mundo contemporâneo cada vez mais “tecnocratizado” nos coloca perante o paradoxo do uso ou abuso, das perdas ou ganhos da era informacional e tecnológica que tende a nos distanciar de nossa natureza humana implicando na necessidade de resgate de uma ecosofia também de cuidado sensível e orgânico com o nosso ser e estar no mundo. Em termos mais simples e objetivos, pode-se dizer que essa “artificialização” da nossa sociedade tem gerado um afastamento cada vez maior do ser humano de sua natureza, implicando em perdas em vários níveis, inclusive em sua fertilidade, em sua capacidade de se relacionar, de se reproduzir, enfim, em sua capacidade para o amor. E isso precisa ser compensado de algum modo através da busca por um reequilíbrio entre o nosso ser interior e o exterior e pelo desenvolvimento de uma consciência sustentável que nos permita a transição para o uso de tecnologias e energias limpas e recicláveis e modos de vida mais saudáveis e interconectados a teia da vida e seus ecossistemas.
Isso justifica a necessidade referida antes e a orientação de optarmos por modelos de tratamento e cuidado com a saúde de modo integral, contemplando não só o organismo biológico, mas também a atenção a mente, as emoções, a espiritualidade ou dimensão de valores, em revendo hábitos e padrões de vida que nos reconectem a nossa natureza humana, a partir da ajuda de terapêuticas complementares mais naturais a práticas conscientizadoras que vão desde a busca por cuidados com a saúde individual em vários níveis, ao autoconhecimento, passando então aos cuidados na gestação, a humanização do parto e a revisão de modelos vigentes alicerçados na indústria de mercantilização da saúde.
Outra mudança histórico-social marcante e influente neste assunto passou a ser a inserção cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho na década de setenta que ocasionou uma salutar emancipação feminina e sensíveis avanços para a sociedade, mas que naturalmente como toda e qualquer mudança trouxe em seu lastro uma série de desafios não só as mulheres, mas também aos homens e as relações conjugais e familiares, de modo que novas configurações de relacionamentos foram surgindo e impactando a vida de todos.
As mulheres vieram agregar a dimensão feminina, intuitiva e sensível a um mercado de trabalho excessivamente masculinizado, técnico e racional de uma sociedade patriarcal hierarquizada, competitiva e dominada historicamente por homens, deste modo, polarizada, desequilibrada em suas relações sociais e agressiva com a própria Natureza (representante do feminino negado e explorado) já bastante devastada e poluída pela filosofia cientificista fria, cartesiana, mecanicista, dessacralizada, tecnocrática e intelectual de progresso sem limites e sem noção de consequências, praticada de modo predominante por homens acostumados a guerrear pelos seus territórios (hoje mercados de trabalho) em nome de dogmas de todos os tipos e a atuarem como provedores de suas famílias, mas pouco afeitos a cuidar de si ou de seu interior, de sua esposa e filhos em sua dimensão afetiva e amorosa, menos ainda, de seu próprio planeta e ecossistemas.
Ao entrarem num mercado de trabalho de valores patriarcais, muitas mulheres para ser tornarem bem sucedidas precisaram se adaptar, fazer o jogo de poder dos homens e a abrir mão de sua própria feminilidade. Isso afetou e vem afetando a todos os envolvidos, tanto homens, quanto mulheres que precisam buscar então uma redefinição de seus papéis tanto do ponto vista externo: econômico, familiar e social, quanto do ponto de vista interno: emocional, psicológico e espiritual. Essa mudança acabou afastando a mulher de sua natureza biológica maternal que agora precisa ser resgatada na busca por um reequilíbrio, o que implica numa responsabilidade também para o homem que precisa reposicionar-se frente a esses novos tempos e a outras exigências. Ambos precisam se responsabilizar e se ajudar em prol de um modelo de vida mais consciente e saudável, onde estão sendo desafiados a reverem seus padrões comportamentais, princípios e hábitos de vida.
Os filhos podem nos ensinar mesmo antes de nascer. Casais com dificuldades para gerar uma criança estão sendo oportunizados por esse "sintoma contemporâneo" - enquanto sinalizador dos tempos hodiernos e das novas exigências e desequilíbrios da sociedade moderna - a refletirem sobre a sua saúde, comportamentos, valores e estilos de vida, mas não apenas do ponto de vista biológico, mas sim também a partir de uma perspectiva interior, emocional, psicológica, espiritual e existencial.
Um sintoma não é algo que vem para pura e simplesmente nos incomodar, impedir nossos planos de vida e sonhos, mas sim para nos transmitir uma mensagem numa linguagem que nos chame a atenção. Um sintoma não deve ser combatido, mas lido, interpretado e não só do ponto de vista físico e racional, como pensa a maioria, mas também em sua dimensão inconsciente, afetiva, anímica, espiritual.
Um sintoma precisa ser tornado consciente e nos levar a ações de mudança. A mensagem precisa sair da sombra e para isso é preciso encarar-se, admitir as próprias contradições, como por exemplo: “Quero ter filho, mas não me permito tirar um tempo pra mim do trabalho. Preciso ganhar mais e mais dinheiro. Tenho medo de fracassar.” E ao decidir confrontar as contradições, intercambiá-las por iniciativas mais saudáveis de acordo com as próprias possibilidades: “Posso rever hábitos e despesas e disponibilizar mais tempo para a vida pessoal, afetiva e a qualidade de vida.” Crianças precisam pais que se organizem para estarem presentes, não necessariamente em quantidade de tempo, mas em qualidade. Crianças precisam de pais mais conscientes que as cuidem com amor. E amar é cuidar e dar limites. Para dar amor, portanto, é preciso amar-se e dar-se limites saudáveis. Pais mais conscientes são aqueles que se cuidam e aceitam o desafio da vida, das emoções, que encaram as suas imperfeições e fragilidades ao invés de viver de conveniências e dissimulações frente às demandas do sistema dominante.
É claro que diante da opressão do sistema e dos desvarios da maioria ainda existe muito desequilíbrio ou avanço a ser feito nesse sentido e muitos desafios e aprendizados pela frente tendo em vista as dificuldades práticas enormes tanto de homens, quanto de mulheres para encontrar equilíbrio entre o seu ser interior e exterior, ou ainda, entre as dimensões pessoal e profissional de suas vidas e a integração de aspectos femininos e masculinos em seu psicológico e espiritual. No entanto, de nada adianta esperarmos por mudanças sociais quando compete a nós fazê-las acontecer em nossas vidas. Esse desafio é de todos, pois o sistema somos nós e não só os outros. Não é possível mudar os outros, nem o sistema, mas sempre é possível mudar a nossa relação com os outros e com o sistema. É preciso assumir a auto-responsabilidade.
A psicoterapia como qualquer outra ajuda terapêutica digna e fundamentada torna-se então um espaço de confronto e aprofundamento dessas interconexões entre o pessoal e profissional de uma maneira mais refletida e consciente, levando em conta a necessidade do autoconhecimento tanto para homens, quanto para mulheres, maridos e esposas ou casal em suas várias responsabilidades, atividades, compromissos e tensões com o meio social e suas exigências.
Além disso, na perspectiva espiritual de um inconsciente profundo e transpessoal, que transcende nosso ego e identidade social, sendo repositório de memórias passadas, arquetípicas, transgeracionais, ancestrais e coletivas, a causa de um problema também pode estar em algum de nossos padrões de comportamento condicionados que apenas reencenamos no presente de acordo com as várias conjecturas da contemporaneidade e cuja psicodinâmica pode ser acessada e trazida à luz da consciência presente através da regressão que consegue alcançar e reestruturar esses padrões subconscientes com precisão e efetividade.
É possível reconfigurar esses enredos ou lugares/papel registrados no inconsciente e vividos como sofrimento ou conflitos na atualidade, redefinindo crenças limitantes, liberando cargas emocionais obstrutivas a meta terapêutica, reencontrando assim um sentido mais íntimo e pessoal de aprendizado e crescimento no AMOR, numa jornada de autodescoberta que pode ser ao mesmo tempo impactante e reveladora, dolorosa e libertadora, desafiadora e edificante, da "dor ao êxtase”, como num parto onde é preciso dar a LUZ a si antes, para que então se possa cumprir essa sagrada missão de ser mãe ou pai de forma mais cônscia e capacitada a esse desafio, calejada pela regeneração interior, pois que renascida e renovada para o AMOR.
Comentários
Postar um comentário