O que é Psicoterapia?
De modo simples e objetivo podemos dizer que psicoterapia é um processo de ajuda para o nosso desenvolvimento psicológico. Ou seja, um processo pelo qual ampliamos a consciência sobre nós mesmos e que nos incentiva a buscarmos recursos internos para lidarmos com as várias questões que permeiam o nosso viver.
A palavra PSICOTERAPIA vem de terapia que significa tratamento e psico que se refere ao nosso psicológico, a nossa mente, personalidade e comportamento. Assim, psicoterapia é uma forma de tratamento da nossa dimensão psíquica.
É também, portanto, um processo de busca por autoconhecimento. E implica num compromisso com o próprio crescimento pessoal e com o reconhecimento da responsabilidade que temos perante a nossa própria vida.
Todas as pessoas precisam fazer Psicoterapia?
Não necessariamente, mas todos deveriam querer evoluir, pois tudo que está parado ou estagnado, degenera, adoece, pois se põe contra o fluxo da vida. E isso também vale para o aspecto psicológico do nosso ser-estar no mundo que é formado por uma série de funções internas e complexas que uma vez negligenciadas podem ser causa de muitos sofrimentos.
A psicoterapia é apenas um meio, dentre outros, para lidarmos e nos colocarmos mais conscientemente em favor do fluir, tanto das mudanças necessárias, quanto daquelas que simplesmente ocorrem em nossas vidas.
Toda a pessoa humana deveria ser interessada em se melhorar, em se autoconhecer e dar um sentido evolutivo a sua própria existência, ou quem sabe, simplesmente desenvolver maior maturidade psicológica e existencial. No entanto, há muito desinformação sobre a nossa dimensão psicológica e muitos estão condicionados a acreditar numa 'ilusão' de auto-suficiência, até mesmo achando que a busca por uma ajuda profissional poderia ser um indicativo de incapacidade em lidar com os próprios problemas, ou de fraqueza mental, debilidade ou até mesmo de anormalidade ou loucura!
Só que ninguém aprende nada sozinho, pois crescemos nos encontros, enquanto seres que aprendem através das relações. E a "prática clínica" tem demostrado que a necessidade de fazer terapia, dentro de uma perspectiva evolutiva, pode ser considerada natural. Do mesmo modo que um dia fomos a escola para apender a ler, a escrever, a conhecer, etc, podemos em algum momento da vida procurar a terapia para nos alfabetizarmos emocionalmente e nos autoconhecermos mais e melhor, desenvolvendo assim personalidades mais abrangentes, permitindo-nos viver o tão mais plenamente e em contato com a nossa essência quanto pudermos.
E nesse contexto das Psicoterapias e técnicas, o que é Regressão de Memória?
A técnica de regressão é um recurso psicoclínico que faz parte do processo de psicoterapia geralmente de orientação mais transpessoal, e que juntamente com outras técnicas integradas, define-se como um método de acesso ao inconsciente que trabalha com a liberação e ressignificação das emoções, bem como, com a reformulação de scripts ou crenças disfuncionais, possibilitando a mudança de padrões comportamentais negativos e limitantes, tornando acessíveis novos modos de ser, de nos relacionarmos e darmos sentido a nossa própria vida.
O que é Psicologia Transpessoal?
O aporte transpessoal parte do pressuposto de que além das dimensões biopsicossociais já bastante estudadas pelas abordagens mais tradicionais, também deveríamos levar em consideração e reconhecer a importância das dimensões espirituais ou cósmicas e o potencial de evolução e transcendência da consciência.
Portanto, é uma escola da Psicologia voltada especialmente para o estudo, a pesquisa e a vivência da Espiritualidade numa visão integrada e influenciada pelas principais contribuições das escolas psicológicas e ciências ocidentais, bem como, de tradições orientais milenares, como a filosofia e a religião.
Devido ao lastro de avanços na pesquisa do psiquismo humano que culminaram nas décadas de 60 a 70 e o crescente interesse e intercâmbio entre os eruditos do ocidente e as religiões orientalistas, inclusive com renomados investigadores indo pesquisar o budismo tibetano e outras filosofias religiosas orientais como o sufismo, os upanishades, o hinduísmo, etc., tornava-se cada vez mais premente a necessidade de se criar uma Psicologia e Filosofia que incluísse também questões transcendentais, transhumanisticas, que nos reconectassem ao cosmos, ampliando os nossos horizontes e trazendo-nos a perspectiva de algo para além do nosso ego, algo além da pessoa e de suas convenções culturais e sociais, algo que nos possibilitasse um sentido mais elevado para a nossa existência.
Assim nasceu a Psicologia de orientação Transpessoal, oficializada em 1968 por Victor Frankl, Stanislav Grof, James Fadiman, Antony Sutich e Abraham Maslow, como uma quarta-força da Psicologia, logo após, respectivamente o Behaviorismo, a Psicanálise e o Humanismo, trazendo a proposta e o desafio de criarmos um sistema aberto e em constante atualização de compreensão da vida, baseado no estudo, na pesquisa, na vivência e na aplicação dos diferentes estados e níveis de consciência em prol do desenvolvimento integral do ser humano. Orientando-nos principalmente a desenvolvermos nossas potencialidades através do autoconhecimento por meio de práticas que possibilitem novas percepções e novas relações em nosso viver e com o próximo, facilitando também, e principalmente, a encontrarmos um sentido mais sensível e sagrado para nossas vidas.
E o que é Terapia de Revivência Transpessoal?
Seria um método de Regressão de Memória baseado nos pressupostos da psicologia de orientação transpessoal e que segundo seu sistematizador, o psicólogo Antônio Veiga, conceituaria-se "como um modelo psicoterapêutico catártico que tem por objetivo drenar a carga emocional reprimida no inconsciente, em tempo próximo ou remoto, responsável pelos transtornos que geram sofrimento na vida presente do indivíduo, possibilitando a ampliação da consciência sobre as reais causas que originaram tais transtornos”.
E qual a relação entre Terapia de Regressão e Terapia de Vida Passada?
Existem muitas tentativas explicativas para a fenomenologia regressiva, ainda assim, a perspectiva de “vidas passadas” é apenas uma dentre as várias possibilidades de interpretação dos relatos de regressões. Sabe-se que “os pressupostos formam hipóteses sobre a natureza de uma realidade; quando se reconhece isso, os pressupostos funcionam como hipóteses; quando disso se esquece, eles funcionam como crenças.” (Roger Walsh, Além do Ego, Cultrix, 1991).
É muito comum entre os pacientes se atribuir o conteúdo acessado em uma regressão como decorrente de vidas passadas, tendo em vista a popularidade do paradigma da reencarnação. No entanto, essa é apenas uma hipótese, como são também todas àquelas alicerçadas em outros paradigmas como o do inconsciente coletivo junguiano, a transmissão de memória entre gerações, universos paralelos, memória genética, etc., ou ainda, todas àquelas que levantam indícios quanto a tais conteúdos poderem ser produtos de fantasias, imaginação, ilusão, dramatização, criações da mente, devaneio, delírio, alucinação, histeria, falsa memória, confabulação, etc.
Ocorre que tal fato não tem tanta significância no processo terapêutico, pois o objetivo é a remissão de sintomas dos quais o paciente é portador, com a desativação de suas causas. Portanto, se atingido esse objetivo, as metas estão alcançadas, independentemente do que se possa pensar sobre essas vivências, das causas que se queira atribuir a elas ou das explicações e hipotéticos paradigmas que se queira assumir, o que vai da liberdade de credo de cada um, conforme atesta a nossa própria Constituição Federal.
Os conteúdos aflorados são trabalhados tais como se apresentam para a pessoa, como modos de elaboração e ressignificação genuínos, correspondentes a verdade própria e íntima de cada paciente e que deve ser respeitada terapeuticamente. Portanto, convém deixarmos que as pessoas decidam por si mesmas qual a real natureza daquilo que acessaram.
Segundo explica o psicólogo Júlio Peres, doutor em neurociências e pesquisador da espiritualidade: “(...) Mesmo que uma memória emocional não forneça um retrato completamente factual da experiência passada, o conteúdo emocional, configurado como uma memória é uma representação absolutamente genuína dos referenciais internos do indivíduo.” E complementa: “O psicoterapeuta pode ajudar o paciente a tornar-se consciente do "lugar/papel" comum ocupado em diferentes enredos emocionais passados. Essa consciência viabiliza a escolha de novas atuações saudáveis no presente contexto de vida. (...) A desarticulação das dinâmicas patológicas se processa com o fortalecimento gradual de novos diálogos internos resilientes. (...) Se um ‘lugar’ específico é ocupado em diversas histórias emocionais passadas, então a mesma dinâmica pode estar presente na dificuldade atual do paciente. A psicoterapia pode, assim, trazer padrões previamente inconscientes de comportamento à luz da consciência. As redecisões cognitivas baseadas no repertório resiliente do indivíduo podem promover a construção de novos diálogos internos, sentimentos e comportamentos mais saudáveis.” (Júlio Peres, Juliane Mercante, Antonia Nasello, em Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, vol.27, nº.2, Porto Alegre, 2005)
Ou seja, padrões comportamentais disfuncionais e condicionados podem ser mudados a partir da reconfiguração eficiente de suas estruturas psicodinâmicas inconscientes. “O passado é maleável e flexível, modifica-se com novas interpretações das recordações e re-explicações do que aconteceu.” (Peter L. Berger, Invitation to sociology: a humanistic perspective. New York: Anchor; 1963. p. 57)
Assim, independente da crença que cada pessoa queira atribuir a sua vivência, o fato é que a regressão possui “eficácia simbólica” conforme conceituada por Claude Lévi-Strauss, também podendo ser interpretada a partir do conceito de “imaginário social-histórico” de Cornelius Castoriadis, ou do “imaginário cultural” de Gilbert Durant, discípulo de Gaston Bachelard e sua “cosmovisão” que incluía o "imaginário poético" dos “símbolos, mitos e arquétipos” e sua capacidade de recriação, de recomeço, de criação simultânea do ser, da língua e do mundo; ou seja, conforme nossa compreensão e proposição psicoterápica, o uso eficiente do imaginário, dos referenciais internos e das crenças dos pacientes em favor do processo terapêutico e da reinvenção de si mesmos a fim de promover a saúde mental.
Vários estudos e investigações promovidos por núcleos de pesquisa acadêmica em espiritualidade (NUPES/UFJF, NER/UnB, LIASE/UFG, ProSer/USP, NUSE/USP, LASER/UNICAMP, NIETE/UFRGS, etc.) vêm demonstrando que o conhecimento e a valorização dos aspectos resilientes, afetivos, salubres dos sistemas de crenças espirituais e religiosos dos pacientes colaboram com a aderência do indivíduo ao tratamento e, também, para melhores resultados nas intervenções terapêuticas.
Ademais, Jung, em seu tempo, já alertava-nos para importância de considerarmos diferentes perspectivas na psicologia: “Se hoje existe um campo em que é indispensável ser humilde, e aceitar uma pluralidade de opiniões aparentemente contraditórias, esse campo é o da Psicologia aplicada. Isto porque ainda estamos longe de conhecer a fundo o objeto mais nobre da ciência – a própria alma humana. É pelo ser humano que devemos começar, para poder fazer-lhe justiça.” (apud Roberto Crema, Saúde e Plenitude, 1985, p.100)
Consecutivamente, a TRT-Terapia de Revivência Transpessoal não deve ser confundida com nenhuma modalidade de tratamento ou procedimento religioso, sendo a rigor, utilizada estritamente para fins terapêuticos. Por esse motivo é realizada em consultório, por médicos e psicólogos com especialização nesta área, obedecendo a todas as normas de respeito ao paciente, à ética e ao sigilo profissionais.
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