A despeito da reprovação de todos os totalitarismos, a verdade é que somos seus herdeiros diretos. Os indivíduos e grupos mais perigosos da história da humanidade foram aqueles que colocaram suas ideologias, suas ideias de “bem comum” e os seus próprios interesses acima da dignidade humana, avançando sobre outros grupos humanos, negando-lhes os seus direitos, suas diferenças, suas liberdades e suas singularidades.
Toda a tragédia totalitária se enquadra ao afirmado por Vladimir Tismaneanu em sua obra O Diabo na História (2017): “a visão de uma elite superior cujos fins utópicos santificam os métodos mais bárbaros, a negação do direito à vida [ou também: ao trabalho, à liberdade, ao remédio adequado, a pratica da sua fé, etc.] àqueles que são definidos como '(...) degenerados' [negacionistas], a desumanização deliberada das vítimas e o que Alain Besançon identificou corretamente como a perversidade ideológica no coração do pensamento totalitário: a falsificação da ideia do bem. [salvar vidas como um slogan quimérico, uma abstração tão genérica que não pondera contestações, nem se acautela ou abre espaço a reflexão dialética].” (pg.91) [acrescida de meus comentários]
Uma narrativa para todos governar. Uma ideia de bem comum para impor a todos. Uma só ciência, um só protocolo de biomedicina, um só governo mundial ou política de governança global. O imaginário totalitário tem o poder de se recriar através de nós. Da rebelião dos caídos no cânone bíblico em sua busca de um reino de dominância luciferina pela servidão infernal de todos, aos escritos fantásticos de J.R.R. Tolkien sobre o UM anel para todos dominar, até a ópera de Richard Wagner, "O Anel dos Nibelungos" que narra à fatídica exigência de possessão do anel: abdicar do amor, tal como num pacto de Fausto na obra de Goethe, assistimos ao ideário totalitário se criar, destruir e reconstruir incessantemente. Podemos percebê-lo também através dos conquistadores da história em sua loucura megalômana egotista de dominância do mundo: Xerxes, Gengis Khan, Alexandre, Átila, dentre outros, ao império expansionista de Roma, a invasão europeia das Américas, até chegarmos ao ópio dos intelectuais: as ideologias egocoletivistas socialistas e as tecnocracias dos séculos recentes, de Hitler e os nazistas, ao fascismo e a internacional comunista; afinal, quem em sua vã militância ou ativismo social que afronta liberdades, direitos e dignidades de terceiros, poderá se dizer totalmente isento do desejo demiúrgico secreto de poder, dominação e controle que subjuga o coração humano e que seguidamente se reveste da tentativa de purificar, igualar, unificar ou salvar a humanidade?
Nunca, sob-hipótese alguma, pessoas em sã consciência deveriam se achar habilitadas ou se deixar inebriar pelo poder num surto de onipotência, para se achar no direito de interferir ou bloquear radicalmente dimensões de vida e de ciências que vão muito além de suas competências e de sua compreensão. Mesmo que tivéssemos uma comissão de notáveis, gênios e experts em cada área de ação humana, a tomada de decisões e interferências intromissivas tenderiam a ser desastrosas, pois dentro das ciências e além delas, não existe consenso genérico ou unanimidade, mas pluralidade, multidimensionalidade, coexistindo diferentes paradigmas e modos de se ver, perceber e viver um mesmo campo de atividade humana ou outros, suas intersecções e mais além. Tudo isso, vale lembrar, abrigado por preceitos históricos e civilizacionais, leis, direitos, deveres, liberdades e responsabilidades conquistados a muito custo e com o próprio sacrifício e luta de nossos antepassados no decurso da história.
Por isso, concordo com quem diz que o maior problema muitas vezes não está só naquilo que não sabemos, mas no que achamos que sabemos. Eis a comédia humana, a presunção do saber. E que vira tragédia nas mãos de elites abusivas, de governantes inaptos e de autoridades tecnocentradas. Burocratas cartesianos separatistas que se distanciam de um verdadeiro senso de humanidade, acabando por impor regramentos megalomaníacos de acordo com as típicas projeções simbólicas de si mesmos: máscaras, isolamento, distanciamento social, bloqueio do contato humano, proibições de práticas de fé, interdições de encontros familiares e entre amigos, desrespeito até mesmo com os mortos, proibindo as pessoas de honrarem as perdas de seus entes queridos, de velar os seus corpos e prestar homenagem fraternal em suas memórias. Não satisfeitos, em sua inépcia, politizaram até mesmo àquelas medicações com décadas de franca utilização, e que vêm ajudando na recuperação de doenças infecciosas e salvando vidas.
Numa espiral de insanidade, o agrupamento autoritário do fique em casa decidiu a quem sacrificar, ou, o que e a quem iriam cancelar. Para eles, dane-se o aumento de casos de suicídios, as mortes por falta de diagnóstico e tratamento de câncer, bem como, devido aos agravamentos de doenças cardiovasculares e outras enfermidades sérias. Dane-se que retardar diagnósticos cause uma demanda maior no futuro. Danem-se os surtos de transtornos mentais, o aumento de casos de depressão, síndrome de pânico, crises de ansiedade, entre outras tantas psicopatologias. Danem-se os flagelados pelo colapso econômico, a aniquilação de postos de trabalho, a falência de autônomos, micro, pequenas e até grandes empresas e o desemprego em massa. Danem-se os que passam fome, a miséria e o aumento da indigência. Danem-se os direitos infligidos, as liberdades perdidas, e ainda, o aumento do número de abortos, a soltura de presos perigosos, o abuso de drogas, o abuso de poder, o aumento da criminalidade, a violência doméstica. Danem-se tanto a prisão domiciliar, quanto o ano escolar e o tempo perdido de nossas crianças, adolescentes, jovens e famílias. Danem-se todos os que confiassem em protocolos médicos e remédios que poderiam tratar os sintomas e salvar vidas. Aliás, danem-se todos os que acreditassem em outras modalidades de tratamentos preventivos e terapêuticos. Danem-se todos os contrários, a seita da terra parada decidiu: “importa salvar vidas ficando em casa, obedecendo às autoridades. Use máscara, álcool gel e mantenha distanciamento social, principalmente, de igrejas, escolas, idosos, confraternizações, cultos de fé, familiares, amigos, academias, parques, quadras de esportes e do seu próprio trabalho. É para o seu próprio bem, acredite”; eles repetiram ad nauseam.
E veja que isso não era uma orientação, era uma ordem: sem debate, sem dialética, sem diálogo. Portanto, sem ética, que é uma reflexão sobre a moral. Assim, a pandemia da tirania despertou um grande número de ditadores adormecidos em muita gente por aí, não só de autoridades. O afã de encontrar motivos para exercer algum poder sobre os outros se exasperou num grande contingente de pessoas, remetendo-nos aos resquícios dos piores regimes do passado. Abrir mão da própria liberdade e obrigar os outros a abdicarem de seus direitos e liberdades mais básicos é cumplicidade demagógica, abuso estilizado, que nos retrocede a alguma forma de autoritarismo redivivo e a reedição daqueles momentos mais vergonhosos e obscuros da história da humanidade. Todos os déspotas e tiranos junto aos seus séquitos e apoiadores acreditavam nas benesses de suas próprias causas antes de sair por aí espalhando o medo e o terror contra terceiros, impondo-se pelo principado da perseguição, da coerção e da violência. Bem comum à custa das liberdades, direitos e sacrifícios alheios, é tirania.
A mentalidade totalitária que subjaz no íntimo de cada um de nós sempre assume fachadas puristas e uma vez incentivada na pandemia, passou a ser típica naquela gente que impõe ou acredita em quem imponha uma ciência única, consensual, onipotente e onisciente, a despeito da ciência com consciência ser a respeito da diversidade humana e suas inúmeras comunidades de verificação. Tornou-se típica também em quem impõe ou acredita em quem imponha a sua medicina ou protocolo de saúde como compulsório, sujeito a multas e punições, como se todos os profissionais, médicos ou especialistas de outras áreas, tivessem a mesma visão, abrangência e o seu público fosse homogêneo, sem distinções ou particularidades, insuflando alguns a desconsiderar seus próprios limites, práticas e conhecimentos, a negar as suas evidências clínicas, e que revelam que todo o método tem indicações, limitações e contraindicações, não sendo panaceia a ser aplicada a todos.
Por tudo isso, precisamos urgentemente exercitar uma reflexão sobre Ciência, pois muitos não reconhecem os riscos de se autoenganar recaindo num imaginário totalitário disfarçado de pretenso consenso científico e de como podem falsear a ciência manufaturando narrativas para se “autojustificar”. Principalmente, em sua ignorância sistêmica que os leva a interpretar a parte como se fosse o todo, numa visão parcial, fragmentária e que conduz a intervenções reducionistas que aviltam outras partes e dimensões do sistema inteiro.
A falácia do consenso científico
Muita gente aceitou ser reduzida ao viés biopolítico em detrimento a sua complexidade humana, acreditando numa deturpação de contagio biofísico que negligenciava completamente o funcionamento multinível de sua saúde e sistema imunológico. E isso ocorreu com base numa visão de ciência da saúde arcaica, reducionista, bio sectarista, deletéria e retrógrada. A mesma que já serviu de pressuposto para eugenias genocidas e outras tantas atrocidades em nome de um cartesianismo mecanicista que degrada o ser humano e favorece os despotismos políticos e ao materialismo histórico. O surto de autoritarismos, violações e abusos politiqueiros que em choque assistimos pelo mundo foi uma consequência direta dessa subtração da nossa saúde, da corrupção de nossos sentidos e massificação da nossa humanidade. Como num looping totalitário, tudo se repetiu em nome de ideários dissociativos, slogans facciosos e mentalidades coletivistas enganosas travestidas de legalidade e que obliteram todas as diferenças, liberdades e singularidades da pessoa humana, vilipendiando até mesmo a sua ambiência e pertença familiar e comunitária.
A prática da ciência não é isenta, pois não existe, por exemplo, um observador independente do fenômeno observado. E as crenças, expectativas, escolhas e construções metodológicas do pesquisador afetam direta e inevitavelmente os resultados de sua pesquisa. Mesmo em investigações de duplo ou triplo cego isso pode ocorrer inapelavelmente. A honestidade está em se reconhecer isso ao praticar a ciência. A inconsciência disso é que torna o fazer científico bastante perigoso, pois gera todo um discurso de falsa isenção, de pretensa “universalidade” e absolutismo de poder e autoritarismo que podem servir de base para qualquer tipo de regime totalitário ou interesses escusos.
É alarmante notar como alguns cientistas e acadêmicos têm o perigoso hábito de falar em nome da Ciência e em termos de prova e comprovação, num discurso veladamente imperativo e propagandista, frequentemente ignorando que o seu fazer científico é um dentre vários e seus pares revisionais somente um grupo de pares em meio a tantos outros grupos, de modo que é comum vermos cientistas agindo de modo alheio ao fato inconteste de que a sua prática é apenas um recorte de realidade, possuindo limitações, condicionalidades e descontinuidades que muitos de seus adeptos ignoram de forma extremamente parcial, disfarçadamente passional e, não raro, rigidamente prepotente e autocrática.
Muitas vezes essa soberba arbitrária atende a um público a espera de verdades prontas, acomodado numa indolência e credulidade, e que recai na ingenuidade de acreditar que quando alguém utiliza o argumento de autoridade de que é algo cientifico ou acadêmico isso seja sinônimo de “verdade impositiva” a ser seguida e acatada por todos, a ponto dessa retórica ser usada para interferir em sociedades ou nações inteiras. Ora, dentro das ciências e na academia há inúmeras divergências, muitas dessas, inconciliáveis até, além de diversas metodologias concorrentes que levam a evidências e percepções distintas de empiristas, pesquisadores e suas comunidades de verificação e que estão muito longe de chegarem a algum consenso mais amplo ou unanimidade a respeito de questões mais complexas.
Todos somos leigos em algum nível. E leigos ignorarem "saúde preventiva" não é nenhuma novidade. Até mesmo um grande número de profissionais de saúde ignoram variáveis do sistema imunitário, pois não privilegiam uma visão de saúde integral. Agora a novidade (ou o novo normal) é essas pessoas todas, leigas sobre o espectro da saúde como um todo, políticos, juízes, burocratas, síndicos, até especialistas que ignoram campos de atuação além de seus próprios, mais toda a turma de desinformados e militantes histéricos ou coléricos, de modo simplista, redutivo, simplesmente se autorizarem a impor a sua ignorância por decreto e opressão contra todos os demais. Quer dizer, isso sim é novidade numa sociedade que se diz democrática, humanitária ou respeitadora dos direitos mais fundamentais. Já nos regimes totalitários da história essa lógica sempre foi falsificada através de alguma variação ou perversão de ideal de "bem comum".
Quem se entusiasma com o "novo normal", conforme definição de elites dominantes sempre desejosas de modelar comportamentos esquece-se dos velhos normais que já vimos ao longo da história. Qual era o normal de regimes fascistas? E comunistas? E nazistas? Qual era o normal da Inquisição na Idade Média? E quando o normal foi a escravidão? Estava bem para você ser normal, então? Esses eram os normais das elites dominantes dessas épocas e poderia trazer inúmeros exemplos, mas creio que isso seja suficiente para ilustrar o ponto. O normal de uma época ou ambiência cultural conforme definido por elites dominantes, ou grupos de interesse, pode muito bem ser o patológico e o opressor aos olhares de outras comunidades, tempos e lugares.
O fato é que enquanto os novos normais usavam uma falaciosa retórica cientifica para justificar seu redux de boas intenções em salvar vidas, transcorria fora de seus olhares histriônicos seletivos e dos holofotes midiáticos sensacionalistas, a condenação de outras tantas vidas ao adoecimento, ao desemprego e a morte por muitos outros meios que acabavam sendo sumariamente negligenciados. Não obstante a isso, esses políticos, burocratas e os apoiadores de suas arbitrariedades converteram domicílios e cidades inteiras em gulags de isolamento, cujas condições de salubridade dependiam inteiramente da classe social, verdadeiros campos de concentração urbanos ou prisões domiciliares. Ao avançarem ou apoiarem violações contra direitos naturais, não importa o regime, o pretexto ou a explicação “cientifica” que queiram atribuir, atentaram contra a dignidade humana.
Pânico, histeria e abusos midiáticos
Em sua guerra de interesses no teatro politico macabro, a mídia militante abriu fogo pesadíssimo, não se importando nem um pouco que em meio ao entrevero estava o povo brasileiro. Seu mórbido terrorismo sensacionalista durante a pandemia fragilizou psicologicamente muita gente, levando ao pânico e a histeria um grande contingente de brasileiros, entre crianças, adultos e idosos, muitos desses com saúde frágil, outros em situação de vulnerabilidade social. Esse bombardeio diário em números absolutos de óbitos virais disfarçava-se de preocupação com vidas como se as pessoas fossem meros autômatos biológicos, vendo negligenciada a sua saúde mental, suas emoções e afetos, brutalizadas pela falta de um mínimo de empatia a desconsiderar que o medo é um fator imunossupressor e as emoções são decisivas no regular do seu sistema imunológico e da sua saúde em geral. Nunca havia visto tamanha crueldade em jornalistas de parte da mídia como durante essa pandemia. De causar repulsa.
Os efeitos disso foram devastadores sobre o psicológico das pessoas. Justo quando era preciso orientar e redobrar cuidados imunitários dos grupos de risco, foi insuflada uma situação de vulnerabilidade psicológica imunodepressora em toda a população. Muitos decaíram na histeria, no medo e no pânico devido ao terrorismo psicológico de mídias e autoridades, ficando mais expostos, achando-se protegidos. O que as metanálises da pandemia vêm corroborando, pois o maior isolamento social e a menor mobilidade urbana implicaram num aumento do número de óbitos e infectados. Desse modo, as pessoas simplesmente se submeteram facilmente a abusos. A ponto de replicarem uma dinâmica psicopatológica muito comum de conivência e cumplicidade entre abusadores e abusados. Muitos abusados costumam defender seus abusadores por se sentirem protegidos por eles. Também é muito comum vermos vítimas abusadas, oportunamente, se convertendo em abusadores. Ou então, apoiando abusos. E assim, sociedades livres e nações podem ser arruinadas, engolfadas por algum tipo de nova onda totalitária.
Oprimir, perseguir, vigiar, punir e cercear subversivamente a liberdade de grupos humanos em nome do bem comum e de alguma ordem foi o que todo o regime ditatorial da história sempre fez, inclusive com apoio da mídia, da propaganda e de celebridades engajadas na causa, desfavorecendo uns em detrimento a outros, protegendo as castas privilegiadas daquele regime. Esse é um padrão recorrente. Só variando talvez no nível de dominação, manipulação, coerção, violência e crueldade aplicadas, mas que eram sempre mascaradas pelos próprios regimes. Por algum motivo atávico, a mentalidade totalitária segue se repetindo entre gerações, apesar de todos os avanços ditos civilizacionais, e com isso, seja em nome das boas intenções ou por ignorância, abusos seguem sendo cometidos contra a humanidade. A inovação da vez foi usar um falso pretexto de saúde pública.
A falsa premissa de contágio
O grau de risco de adoecimento devido ao contágio viral não está propriamente no contato humano de pessoa para pessoa, mas na baixa imunitária de uma pessoa. Isso é tão autoevidente, tão simples e tão óbvio que somente o pânico e a desinformação massiva conseguem negar e conjecturar contra a maior das obviedades. Exemplos disso não faltam, são todos os assintomáticos, ou aqueles que não pegam o vírus e até aqueles que pegam, mas manifestam sintomas leves, o que ocorre pela condição de saúde geral, pelo estado imunitário de cada pessoa. Aliás, sistema imune esse que atravessa toda a área da saúde, envolvendo muitas ciências e mais além, não se restringindo ao campo biomédico.
A terceirização da responsabilidade de contágio, portanto, é uma falácia na medida em que não é algo que obrigatoriamente gere doença. Cada um deve ser responsável por si, pelo seu autocuidado, bem como deveria ter empatia sim pelo cuidado com o próximo, mas daí a ser obrigado por decreto, responsabilizado ou violado em suas liberdades e direitos naturais, fundamentais e constitucionais, devido a alguma vulnerabilidade alheia ou até pelos descuidos, desconhecimentos e opções de saúde de outros, é algo que só aconteceu ao longo da história e aqui por analogia, nos ideais totalitários, onde essa terceirização era usada como pretexto para opressão. Então, ocorria de algum grupo usar o poder e determinar que outro grupo fosse apresentado como raiz dos males, com consequências trágicas.
O slogan de salvar vidas se tornou um meio coercitivo de se fazer chantagem emocional, levando as pessoas a cederem seus direitos e liberdades por pressão social baseada em falsas premissas de saúde. O modo de cada pessoa cuidar da sua saúde é personalizado, não devendo ser homogeneizado ou banalizado a pretexto coletivo, pois a pluralidade da organicidade humana assim o exige. A saúde pública é a soma dos indivíduos e suas particularidades, devendo haver justa medida entre o público e o privado. Muitas pessoas podem preferir se proteger com hábitos mais saudáveis, ou reforçando seu sistema imune de formas diversas que outros desconhecem. Existem muitos modos, práticas e profissionais cuidadores que atuam no nível preventivo, existem muitas profilaxias e métodos diferentes de tratamento e cuidado em saúde. Modos esses que podem evitar o contágio ou minimizá-lo no plano sintomático, pois é isso exatamente o que acontece com quem não pega o vírus ou o pega de modo brando. Então, veja que não é o outro que te adoece, pois isso depende decisivamente de seus cuidados imunitários e de sua condição de saúde geral. É lamentável essa terceirização falaciosa do contágio como forma de justificar obrigatoriedades, sacrifícios e violações contra a saúde e a dignidade humana dos outros.
Ninguém tem o direito de determinar que o outro seja uma "ameaça" a sua saúde sem provas críveis para tal. E medidas exorbitantes, exigem provas excepcionais. O fato é que muitas das medidas impostas por governos e aderidas pela população como protocolo de saúde nunca haviam sido testadas antes, nem tinham respaldo científico e muito menos existe consenso cientifico para situações de tamanha amplitude, pluridimensionais e complexas, a fim de se justificar intervenções danosas contra indivíduos, comunidades e nações inteiras. Esse falso argumento de consenso da Ciência quando o máximo que existe é revisão entre pares de um mesmo tipo especifico de ciência, dentro de um mesmo segmento metodológico e seu recorte limítrofe de realidade, é uma das falácias mais grotescas que pude constatar durante a pandemia e que revela uma ignorância imensa de reflexões éticas primordiais no âmbito da epistemologia das ciências.
Os limites para atuação de governos, cientistas e tecnocratas empresariais no mundo livre, no mundo dito civilizado e regido pela fórmula do estado laico e democrático de direito estão expressos nas leis, constituições nacionais e tratados mundiais de direitos humanos criados justamente para que se evitasse que violações dessa natureza fossem perpetradas por quaisquer elites, governantes e facções autoritárias contra agrupamentos a sua escolha.
Portanto, isolamento, quarentena, lockdown, distanciamento social e uso compulsório de máscaras para pessoas saudáveis, é tirania, não medida preventiva em saúde. Podem até existir especialistas que defendam isso, mas enquanto houver outros tantos profissionais com visão contrária a essa, atuando a partir de paradigmas diferentes, com reputações consistentes, apresentando outras evidências e suas próprias validações, a tentativa de grupos, governantes e agências de impor a sua visão ou interditar qualquer debate deve continuar sendo vista com repúdio, ou extrema desconfiança e qualquer insistente uniformização nesse sentido como uma tentativa de se violentar a pluralidade da humanidade.
Na minha avaliação de profissional da área da saúde, a consequência generalizada dessas improvisações sociais ou experimentos de lockdowns, quarentenas e modelos de distanciamento social de ficção cientifica futuristas distópicos é que a natureza humana foi subvertida, bio massificada, coletivizada, artificializada. Fomos usados como cobaias humanas sem o nosso consentimento. O nosso sistema imune foi fragilizado e o nosso ser psicológico, manipulado. A ciência acabou sendo falaciosamente utilizada, tendo a sua pluralidade de paradigmas obliterada, nos retrocedendo a um modelo de saúde bio reduzido. Enquanto isso, a tirania política, a malignidade midiática e a corrupção correram soltas. Seguindo assim nesse curso insano, sem reflexão dialética, caminhamos para nos tornar autômatos biológicos, seres objetificados, humanos dentro de bolhas de plástico, uma anti-humanidade testada e pasteurizada por um experimento social macabro, talvez de controle populacional numa escala global.
Por isso, considero urgente a necessidade de se respeitar e resgatar a integralidade da vida, da saúde e do ser humano, suas múltiplas dimensões de cuidado, de fazer ciência e conviver socialmente, promovendo práticas que não findem apenas numa assepsia higienista, mas que também atuem no fortalecimento multinível do sistema imunitário que compreende muitos outros fatores e modos de prevenção, tratamento e promoção da saúde individual e coletiva.
É responsabilidade de cada um e de todos sermos mais vigilantes em nossa cidadania frente à tirania, também nos prevenindo, cuidando e respeitando a pluralidade da humanidade para irradiarmos sanidade, justiça e bem-estar social genuíno ao invés da mera histeria e demagogia que autorizam o abuso político do poder. E quem sabe assim, expandir consciências a fim de buscar desenvolver maior imunocompetência e também uma ética mais autoconsciente para a vida em sociedade. Rogo para que nós seres humanos ainda sejamos capazes de refletir dialeticamente no intuito de proteger a liberdade, a saúde e também a dignidade humana. Para que vidas sejam preservadas e também sejam dignas de ser vividas.
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Gustavo Garcia é psicólogo clínico, escritor e pensador livre. Atua buscando combinar técnicas integrativas no campo da saúde mental, conciliando a ciência e a tradição.
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