Texto síntese de Gustavo Garcia, psicólogo e especialista em regressão, tendo por base sua participação como convidado na Jornada Astrológica da astrocoach Ana Valéria Wilges, sobre a Casa 12, a casa do carma e suas conexões com a fenomenologia regressiva.
A palavra karma vem do sânscrito, significando ações e seus efeitos. Seria algo como a soma das boas e más ações dos indivíduos dentro de um conceito mais oriundo das tradições do oriente, popular em religiões como o budismo e o hinduísmo. E, no ocidente, também presente na doutrina espírita de Allan Kardec, na teosofia de Helena Blavatsky e na antroposofia de Rudolf Steiner. Usualmente, não faz parte da tradição católica e cristã, a não ser talvez apócrifa. Há relatos de que o imperador Constantino teria ordenado retirar da Bíblia toda e qualquer referência à reencarnação. Mesmo assim há trechos inusitados que foram mantidos nos escritos bíblicos, como aquele onde Jesus dá a entender que o profeta Elias teria voltado como João Batista, mas ninguém o reconhecera (Matheus 17:12-13).
Curiosamente o conceito de carma ao ser popularizado no ocidente acabou ganhando uma conotação de viés mais negativista, relativo tanto a acontecimentos, quanto a relacionamentos negativos, embora, na verdade, carma originalmente seja toda e qualquer ação-consequência positiva ou negativa.
Se trouxermos o termo da religião para a psicologia, transcrevendo seu conceito, o carma individual e coletivo seria, por exemplo, numa linguagem mais junguiana, toda a relação entre o nosso ego (persona) consciente e o inconsciente individual e o inconsciente coletivo. Afinal, o próprio carma também pode ser compreendido em suas intersecções entre aspectos individuais e coletivos.
O mapa astral até onde o entendo pode ser considerado como uma ferramenta de diagnóstico da alma ou de tendências de personalidade e comportamentos que nós trazemos ou herdamos do passado, seja esse hipoteticamente de outras vidas, ou ainda, de uma ancestralidade, ou dos nossos antepassados, ou de uma memória transgeracional como nas constelações familiares, enfim... O mapa apontaria para esse conjunto de comportamentos e tendências psicológicas, existenciais e espirituais que através dos signos e suas correlações correspondem aos sinalizadores ou simbolizadores do carma que carregamos e que enquanto tendências podem ser interpretados por astrólogos para nos auxiliar em nosso processo de autoconhecimento.
Bem, independentemente se você acredita ou não em outras vidas, o fato é que traz na sua memória alguma bagagem ancestral no seu inconsciente, seja de aspectos positivos e negativos, seja de um potencial de talentos, competências, méritos, tanto quanto, bloqueios, traços fardos de caráter, defeitos e dificuldades. Em suma, constelando na sua personalidade e comportamento, um lado luz e um lado sombra, uma faceta consciente e outra inconsciente. Assim, o que está na luz é o que você já enxerga sobre si mesmo. E o que está na sombra, o que não enxerga, mas carrega e sente, podendo se traduzir também em comportamentos contraditórios, sintomas e conflitos. Isso está exposto naquela frase de São Paulo Apóstolo: “não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero.” E que expressa as nossas tendências sombrias a autossabotagem e ao autoboicote na vida. Ou seja, a ambivalência humana, aquilo que, por exemplo, sabemos que nos faz mal, mas mesmo assim vamos lá e fazemos. Por isso, os antigos afirmam que o ser humano é agônico, cindido. Tanto é assim que o sofrimento é considerado a primeira nobre verdade do budismo. Somos seres agônicos e a dualidade nos perpassa e constitui a nossa subjetividade.
Nesse sentido, é importante ressaltar que “comportamento é memória”. E o ser agônico, cindido, tem a sua “casa interna dividida entre a fé e a razão”, ou entre a razão e a emoção; hoje tendendo a colocar mais a razão num pedestal e a negligenciar a emoção. O que leva as pessoas a extremos de racionalismos ou de emocionalidades e seus comportamentos derivativos. E que na verdade são padrões inconscientes de formação reativa compensatória, onde geralmente tendemos a alternar de uma polaridade a outra, de um extremo a outro, pendularmente, enquanto indivíduos e sociedade. Como exemplo, em termos genéricos, observa-se que uma geração repressora logo cederá espaço à outra libertina... E assim sucessivamente.
Do mesmo modo constatamos na história a razão iluminista destronando a fé eclesiástica para atônitos assistirmos apenas a mudança de pretexto na pilhagem de cadáveres... Da Inquisição ao Holocausto nazista, ao Holodomor comunista e as ideologias iluministas, as tecnocracias hodiernas e vindouras, suas distopias e sinais apocalípticos. E segue a razão, assim como a ciência, como já fora a fé antes e ainda é, no mais das vezes e até os dias atuais, sendo instrumentalizadas por humanos cindidos... Algo como bestas instintivas com fé literal ou com nobres ideais racionais, mas sem sabedoria ou consciência afetivo-intuitiva, portanto, sem desenvolvimento psicológico, moral e ético. Mais atualmente isso pode acabar por redundar massivamente em seres decaídos cujo intelecto e suas tecnologias servem a besta fera instintiva infra-humana na ilusão de controlá-la... Cientificistas e ideólogos cujo danação é produzir tão somente sociedades tecnocentradas, escravagistas e totalitárias. Ou como diria Albert Einstein a esse respeito:
"A mente intuitiva é um dom sagrado. E a mente racional é um servo fiel. Nós criamos uma sociedade que honra o servo e esquece o dom.”
Uma sociedade que honra a servidão a razão dissociada do coração se torna o que? Talvez escrava de suas mentiras calculistas, desalinhos e automatismos... Afinal, o que nos divide? Por que não conseguimos superar essas atitudes contraditórias? Ou, o que nos torna e nos mantém cindidos? E a resposta objetivamente é: Traumas passados.
A psicodinâmica a ser descrita é a seguinte: Quando sofremos um trauma, uma parte dolorida (emocional) é reprimida para o inconsciente, para a sombra. E a outra parte (racional) que fica na luz cria um mecanismo de defesa para evitar o trauma. Há uma ruptura na nossa consciência. Ou seja, uma dissociação. E essa cisão perdura até que o trauma seja revisto, acessado ou elaborado. Até que integremos essas partes sombrias, nos conciliando com o passado. Jung chamava essas “vozes internas” ou “eus passados” de o “lamento dos mortos” e dizia que a não ser que cheguemos a um termo com os nossos mortos, nos reconciliando com essas partes condoídas, nós não conseguiríamos superar esses traumas, seus complexos e suas sombras. De modo que permanecemos fixados, enrijecidos ou presos em algum enredo dramático ou trágico, tendendo a repetir padrões estereotipados de comportamento que nos levam a sofrer.
E essa é a conexão entre carma, o mapa astrológico e a terapia de regressão de memória, que é uma técnica de terapia psicoespiritual que vai a fundo e de modo focalizado nessas lembranças. E que pretende nos ajudar a curar esses traumas simbolizados no mapa, e então integrar as nossas sombras e nos conciliar com esse passado, ou como indicava Jung, nos conciliando com os nossos mortos. Em termos espirituais, equivaleria a realizarmos os ajustes cármicos necessários, ampliando a nossa autoconsciência. E então, efetuando a chamada reforma íntima e adentrando a etapa evolutiva de regeneração que vai além e supera a fase de provas e expiações em que a nossa evolução se dava mais através do sofrer do que pelo amor. Pois, ao invés de resistirmos e ter então que aprender pelo sofrimento, podemos optar por confrontar e acolher nossas cizânias, aceitando e integrando a nossa sombra, as nossas partes maléficas ou zonas anestesiadas. Oferecemo-lhes a outra face, o perdão e o amor. Pois, o nosso lado sombrio também precisa ser amado. Luz e sombra precisam se conciliar, tema a tema, superando as cisões e fragmentações entre razão e emoção, num enlace de amor genuíno. É então que a verdadeira “magia de redenção” da renovação espiritual pode abençoar-nos, integrando nossos corações e mentes:
"Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e, em troca, darei um coração de carne." - Ezequiel 36:26
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