Há coisas na vida que
não se pode obter direta e indefinidamente, pois obliteram o seu oposto que também é parte
da realidade. Felicidade é um exemplo disso, pois ninguém vai ser feliz o tempo todo. O amor é outro exemplo, sofrendo todos os tipos de oposições e interferências, de modo que aprender a amar talvez seja o maior desafio que temos pela frente em nossas vidas, vinculando-se ao próprio sentido de se viver.
Então, numa outra perspectiva, o que aconteceria se parássemos de buscar freneticamente a felicidade e o amor fora (o que muita vezes ainda é confundido com prazeres, fama, poder, status, empoderamento, etc.) e simplesmente nos dispuséssemos a encarar dentro de nós mesmos aquilo que tem nos impedido de ser feliz ou de amar e sermos amados como propósito guia de nossas vidas?
Então, numa outra perspectiva, o que aconteceria se parássemos de buscar freneticamente a felicidade e o amor fora (o que muita vezes ainda é confundido com prazeres, fama, poder, status, empoderamento, etc.) e simplesmente nos dispuséssemos a encarar dentro de nós mesmos aquilo que tem nos impedido de ser feliz ou de amar e sermos amados como propósito guia de nossas vidas?
Veja que nada do que
buscarmos no exterior, ou seja, fora de nós mesmos, vai preencher o nosso vazio íntimo e as nossas ânsias e carências internas, seja de amor, ou de felicidade, enquanto
existir algo em nosso próprio interior, aquilo que não sabemos sobre nós
mesmos, nem percebemos, mas sentimos, atuando como uma linguagem oculta de sinal invertido - vamos chamar de sombra ou
inconsciente - a persistir bloqueando, iludindo, desvirtuando, sabotando essa
busca, ludibriando as nossas melhores intenções.
É preciso considerar que
a realidade dualística implica também em uma sombra que não pode ser erradicada
de modo algum, pois faz parte de nós, da anatomia da vida, como um membro de
nosso corpo existencial, e tão inevitável quanto qualquer outra gama de
polaridades, tal como: positivo e negativo, escuro e claro, bem e mal, e, consequentemente, luz e
sombra. Sendo assim, em termos psicológicos, nos deparamos com uma dialética daquilo que está à luz de nossa consciência
e que percebemos; e por outro lado, daquilo que está à sombra e não percebemos, mas nos constitui, pois é subliminar ou inconsciente. Portanto, faz mais sentido incluir essa sombra
em nossa equação de vida do que pretender ignorá-la, deixando-a a revelia, e,
por conseguinte, sabotando o nosso projeto de desenvolvimento humano com os
seus programas do avesso.
Por isso, é altamente recomendável desenvolver a nossa consciência a respeito dos mecanismos da mente que podem
sabotar a nossa felicidade e o amor, pois esse é sempre o melhor modo de se
abrir para viver a felicidade e o amor que estão ao nosso alcance, bem
ali diante de nós, onde não enxergávamos antes e, quem sabe, mais além,
uma vez que estejamos abertos, engajados (não só racionalmente, como a maioria almeja, se iludindo!), entregues de coração e mente ao seu merecimento e a vivência de um presente e
um porvir ainda melhores, irradiando esse amor intimamente e a própria volta.
Desse modo, o que
proponho é algo menos idealista e afável aos olhares imediatistas de uns ou aos
melindres de outros, pois certamente isso é menos agradável de saber, menos
idílico, menos romântico, ou seja, que a felicidade não tem como se moldar ao
nosso ideal e as nossas ideologias de como ela deva ser, e que a vida é como é,
impermanente, em constante mutação, de modo que as coisas não param e nos
escapam, alternando matizes de polaridades, e, é justamente por isso que uma
consciência mais virtuosa, ou profunda, de como lidar com essa ambivalência
humana nos é requerida.
Isso tudo implica em
reconhecer que somos os principais responsáveis pela nossa felicidade ou
infelicidade. Que somos responsáveis pela carência de amor em nossas vidas. E,
portanto, autorresponsabilidade e sentido, ou significado, são valores que não
podem ser encontrados fora, sem levar em conta o nosso sentir, a nossa dimensão
afetiva, as nossas emoções e seus vieses, e tudo aquilo que em sua polarização
negativa pode estar a nos reter, a obstruir a nossa felicidade e a restringir a
nossa capacidade para o amor.
Então, ao invés de
buscar felicidade, amor, fazemos melhor assumindo a nossa parte de
responsabilidade existencial. Assumindo responsabilidade pela nossa dimensão
afetiva, pelo nosso sentir e o apercebimento das emoções, integrando esses
aspectos ao intelecto. Assumindo responsabilidade pelas nossas insatisfações,
treinando a gratidão. Assumindo responsabilidade pela nossa sombra, nossas
zonas anestesiadas e partes maléficas, levando luz e perdão a elas, sobretudo redenção. Assumindo
responsabilidade e o dever de educar a nossa própria consciência, seja para o
conhecimento, seja para o autoconhecimento, a fim de que possamos lembrar o nosso
“propósito” nesse mundo de esquecimento.
Enfim, assumir a autoria
e o protagonismo de nosso próprio viver. A responsabilidade em estar presente,
em estar aí, meditar a vida, enfrentar o sofrer com dignidade, travando o bom
combate e cultivando a postura de humilde aprendiz diante das agruras desse mundo. Mas também, exercitando andar
com a coluna ereta e viver uma vida plena de significado, que nos oportuniza
contemplar momentos de uma felicidade legítima, meritória mesmo que impermanente, e encontrar tanto em nosso
interior, quanto nas nossas relações, a experiência de um amor real e autêntico, o único verdadeiramente capaz de ampliar, trazer profundidade e fazer evoluir a nossa consciência.
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